terça-feira, 25 de março de 2008

As mulheres e o futebol

Só Juliana estava realmente interessada. As outras três, Letícia, Melissa e Clarice, viram no convite uma boa oportunidade para se divertir numa quarta-feira à noite. Era jogo do Fluminense x Time-desconhecido-de-São Paulo. Na casa da Ju, cervejinhas, papo furado, coisa e tal.
Melissa, como sempre, chegou atrasada, no meio do primeiro tempo. Mas chegou com Letícia e sacolas cheias de cervejas. Foram perdoadas. Mal chegaram, Letícia e Melissa foram comer amendoim e bater um papo na cozinha com o Dani, irmão-mais-novo-bonitão de Juliana. Ficaram conversando todo o primeiro tempo, falaram de noitadas, cinema, yoga, e o papo foi evoluindo para materialismo e desenvolvimento da espiritualidade.
Clarice e Juliana permaneceram na sala. Juliana não tinha outro interesse que não o Fluminense e Clarice, que não gosta de amendoim, ficou lendo revista e pescando o replay de alguma jogada emocionante.
Intervalo do jogo.
Juliana entra na cozinha tentando se conformar com a idéia do seu time levar uma lavada.
- Cara, o Fluminense tá jogando muito mal! Já vou ficar muito feliz se empatar.
Como não encontrou consolo, voltou pra sala.
Foi quando Letícia se tocou de que devia voltar pra sala, afinal, o objetivo daquela reunião era dar um apoio moral à amiga e "assistir" ao jogo. Não ficar batendo papo e omendo amendoim na cozinha.
Segundo tempo.
Meninas a postos diante da televisão. Copos de cerveja devidamente cheios e...GOOOL. Do time de São Paulo. Clerice chegou a vibrar achando que se tratava do Fluminense, mas foi interrompida pela indignação da Juliana.
- Gente! Não reconheci o fluminense com esse uniforme branco. A vida inteira foi verde, vermelho e branco, quando a gente acostuma eles mudam. Estão querendo me confundir.
Risos generalizados! Exceto Juliana, que tava puta.
O tempo foi passando, a tensão aumentando e Letícia não conseguia parar de rir. O foco da sua atenção, em vez do futebol, era Juliana. Não entendia a como a amiga podia ficar tão nervosa por causa daquele jogo.
- Juliana, seu dedo do pé sempre foi assim, achatado? Ou ficou de tanto usar sapato desconfortável?
- Você tem certeza que quer que eu te responda isso a-g-o-r-a? Solta Juliana já sem paciência.
Enquanto isso, Melissa não dá uma palavra e não pára de comer um só minuto, intercalando goles generosos de cerveja. Clarice, que a essa altura abandonou a revista, a cada 5 minutos ia até a janela conferir a reforma do seu apartamento em frente. Preocupada de seu lar estar sendo habitado por homens brutos e sujos.
- Um horror. Outro dia um deles usou o meu banheiro. E ficou lá um tempão!
Letícia, destinada a pegar no pé de Juliana, reclamou que ela não sabia servir direito. Traz pastinha sem faca pra passar na torrada.
- Quando você casar, vai mudar essa postura? Será que a gente muda de postura depois que casa? Letícia lança a questão.
Melissa garante que sim, experiência própria. Clarice acha que não. Letícia torce para que não mude, mas acha que acaba mudando. E Juliana ignorou.
Segundo gol do time de São Paulo.
Letícia não consegue segurar uma crise de riso. Melissa e Clarice nem viram o gol, engatadas que estavam num papo qualquer e Juliana, em pânico, promete nunca mais chamá-las pra assistir jogo do Fluminense juntas.

5 comentários:

Anônimo disse...

e...?

Vitor Castro disse...

... então, não mais que de repente, na quarta seguinte, Clarice, tentando se desfazer do mal entendido durante a partida, resolve encontrar-se com Juliana, trajada com a camisa do tricolor carioca. Camisa reserva, cor clara, para tentar justificar a confusão da semana anterior.

Juliana, um pouco mais calma (também já era hora, o jogo foi no domingo e já estamos na quarta-feira), recebe Clarice em sua residência sem muito alarde. Mas com cautela, que a imagem de Clarice comemorando o gol do São Paulo não sai de sua mente. Ela se esforça, gosta da amiga (amiga?), mas não consegue tirar de sua cabeça a cena que a impede de dormir há três noites.

Nesse instante, Clarice percebe que Juliana não está agindo naturalmente. Começa uma música estilo filme de Hitchcock. Juliana se levanta, vai até a cozinha. Clarice escuta barulho de talhers se encostando. Logo imagina Juliana com uma faca na mão, vindo a seu encontro.

e...?

Vitor Castro disse...

... então, Juliana vem andando. Clarice escuta seus passos.

- Ahaaaaaahh, grita Clarice no momento em que a campainha toca. Juliana se assusta mais do que Clarice e também grita:

- Quê que foi Clarice? Tá maluca!?

- Levei susto, responde olhando pra Juliana com uma bandeja, mas os dois pedaços de tora de limão no chão.

- Inda fez cair a torta no chão com essa gritaria!! ernquanto eu limpo, aproveita e atende a porta.

- Eeeuuu, responde Clarice, com a voz ainda embargada pelo medo recente.

- Não, minha vó que já morreu. Ué, já fez eu derramar issoa qui no chão, é mais do que sua obrigação me ajudar agora. Vai lá.

Clarice levanta, preocupada. Mesmo vendo que Juliana não estava vindo com uma faca ao seu encontro, continua encucada. Medo é um coisa que não dá pra explicar.

No caminho, toca a campainha de novo. - Ai, que gente impaciente, resmunga Clarice. Um pouco mais calma, vai direto no olho mágico. Não vê nada. Do lado de fora alguém está com a mão sobre o buraco.

- Juliana, num vou abrir não. A pessoa não quer se identificar.

- Abre logo essa porra, Clarice, grita do lado de fora Melissa.

- Ahaaahh (Clarice estava num desses dias, muito sensível, qualquer coisinha gritava). É você Melissa?!

- Melissa, com seu jeito entrona sai empurrando Clarice. Não sem antes deixar uma das duas bolsas de cerveja que trouxe na mão da amiga. - Coloca isso na geladeira, fiquei sabendo que hoje tem jogo de novo. Liguei pra Letícia e ela já está chegando.

e...?

Letícia disse...

Letícia chegou, para desespero da Juliana com a blusa do flamengo, corneta e apito, disposta a desequilibrar emocionalmente a amiga.
Juliana adquiriu um ar sombrio desde então.
Só olhava Letícia de rabo de olho.
e...?

Vitor Castro disse...

Letícia, com seu jeito de falar alto, conversava, durante o jogo, atrapalhando a Juliana a escutar o que o Galvão Bueno dizia (e ela adora o Galvão - ela e mais umas cinco pessoas no Brasil). Juliana bufava. Melissa ria sem parar de beber. o máximo que falava era pra alguém pegar uma cerveja que o copo estava esvaziando. Clarice, já sem medo, assistia ao jogo, tentando colaborar mininamente com o coração tricolor de Juliana. Mas totamente arrependida de ter ido à casa da amiga. Ela espera estar sozinha com ela (apesar do medo) pra desfazer o mal entendido das cores da camisa. Percebeu, depois de 20 segundos da preseça de Melissa e Letícia que não seria diferente do domingo. Ou não, poderia ser muito pior...