segunda-feira, 10 de março de 2008

15 de agosto

Ainda restavam alguns vira-latas revirando o lixo na rua, um ou dois bebuns caídos entre os restos da festa e Bebeto continuava sozinho sentado no primeiro degrau da escadaria da igreja, onde há quatro horas a multidão se espremia para ver os fogos em homenagem à Nossa Senhora da Glória.
Aquela imagem causaria dó em qualquer cristão e Bebeto estava tão apiedado de si mesmo, que até as beatas que já estavam chegando para a missa das 7 tiveram consideração em reparar no seu sofrimento e fizeram o sinal da cruz.
Se lhe contassem essa história há uns meses atrás, como uma mera suposição, soltaria aquela gargalhada sacana, viraria o copo de cerveja e olharia para a primeira bunda que passasse pela sua frente, incrédulo.
Mas não era suposição, e a imagem de Marta aos beijos e, pior, de mãos dadas (coisa que ele nunca gostou de fazer) com outro cara foi arrasador para ele. Como? Se ela sempre comeu na minha mão? Como? Se mesmo depois das maiores sacanagens, ela sempre me perdoou? Ela me ama. Era só o que conseguia pensar.
Dormiu ali mesmo, sem forças que estava para ir a qualquer lugar. Dormiu e percebeu que estava tendo um pesadelo, não porque estava em um corpo estreanho, nem quando os fogos de artifícios caíam sobre a multidão causando pânico e correria, ou porque os cachorros famintos transformados em miseráveis se engalfinhavam por restos de comida, nem se tocou que era um pesadelo quando as beatas o exorcizaram no adro da igreja, mas sim quando viu Marta se aproximar com seu novo amor e lhe dizer: A verdade é que simplesmente não te quero mais. Aliás, nunca na vida fui tua.
Acordou e soube que não a veria mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

bebeto?

Anônimo disse...

ela me ama! ela me ama!


hua hua hua