Cheguei com meia hora de antecedência, achando que tava fazendo a maior vantagem. Mas só tinha passagem para uma hora e meia depois. Com uma mala mega e uma arara (essas de pendurar roupa, não o animal) nas costas. PQP. Rodoviária me dá enjôo, cheiro de fumaça, misturada com cigarro, mais estofado de ônibus...Tava de ressaca ainda por cima.
Fui para a sala da Normandy. Pelo menos ar condicionado e tv, para justificar os abusivos 30 reais da passagem. Advinha o que tava passando na televisão? Caso Isabella Nardoni. Claro. Juro, o tempo todo que passei esperando minha condução a Valença City foi só isso que se passou. Três imagens dos acusados entrando e dentro da delegacia se repetindo interminavelmente enquanto o repórter destrinchava o caso pela quaralésima vez. Olhava atônita as três imagens em looping e acho que entrei em estado letárgico. Quando me dei conta, estava pensando que a madrasta bem que poderia melhorar o visual, pentear o cabelo pelo menos, afinal ela sabe que está sendo mais cobiçada pelos fotógrafos e cinegrafistas do que a Britney Spears e que vai aparecer em todos os jornais do Brasil.
Dei-me conta da bizarrice do pensamento e resolvi, então, comer alguma coisa. Há algum tempo já havia pensado nisso, mas se você me visse sentada com aquela mala e arara do lado, que juntas ocupavam 60% da sala, você me aconselharia a não levantar dali. Mas sou corajosa e lá fui eu arrumar algo pra comer. Na verdade essa era uma ação preventiva. Tenho uma teoria de que viajar de estomago vazio enjoa. O objetivo era comer um joelho (bem massudo pra preencher o estômago) e beber uma água tônica (superstição, sempre tomo antes ou durante a viagem). 7 reais tudo. Tudo isso, falei pro cara do caixa. 3,20 só a água tônica? Gente, mas rodoviária não é um espaço popular? As pessoas que viajam de ônibus ou não tem grana pra pegar um avião, ou não tem grana para viajar pra longe (então vão pra Valença), ou não tem grana pra comprar um carro. Me senti muito pobre chorando miséria com o cara do caixa, mas não podia ficar calada.
Fiz meu lanche e me encaminhei para o embarque. Sempre soube que ao entrar na área do embarque você deve apresentar a passagem para uma espécie de porteiro do embarque. Lá estava eu, caminhando em direção ao porteiro, olhando para ele com uma cara um misto de brava e um misto de sofrimento para convencê-lo a não me pedir a passagem (gente, eu tava carregando a mala mega e a arara, lembram?). Mas ele pediu. Não tive forças para retrucar. Foi quando estava tirando a arara das costas e abrindo a bolsa que tive a recompensa pelo meu dia. Você é fashion, disse o porteiro numa afirmação surpresa. Resolvi entrar na pilha. Sou, como é que você sabe? É que eu também sou. Adoro um All Star, uma blusa colorida, justinha, ainda mais que eu tenho um corpo bom. Olhei pra ele tentando confirmar o corpinho e só enxerguei um uniforme nada fashion. Sem tempo de me deixar reagir ele lançou. Mas estou deixando de ser fashion porque entrei pra igreja.
Entrei no ônibus me sentindo um tanto quanto afastada de Deus.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
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Um comentário:
Que aventura hein...
muito bom o comentario do "porteiro"...hehe
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