quarta-feira, 11 de junho de 2008

A redenção da barriga de fora

Recado (Rodrigo Maranhão)

Com muito dinheiro e carro do ano
Modelo importado, tu tá comentado
Não tem mais sossego e da roda de samba já se separou
Vive cercado, parece um E.T
E sai todo dia em revista e TV
Pra que tanta banca?
Na terra da santa como você vê.
A feira tá pouca, o bicho tá solto.
Tem muito estrangeiro, muito bafafá.
O dia tá feio, a lua não veio, o dinheiro não dá, não dá

Mas tem muito bamba fazendo refrão,
tem muito samba na concentração.
Muita riqueza que você não tem mais não

E tem muito água no nosso feijão
Muita mandinga na minha oração
Muita riqueza que você não tem mais não

Tem muita Maria e muito João
Tem muita rosa pelo quarteirão
Muita riqueza que você não tem mais não.


Fui no show da Maria Rita ontem. Fui sem coonhecer bem o novo CD de samba. É que quando ela começou a deixar o cabelo crescer e a encurtar o tamanho da saia, fiquei com implicância.
Gostava mais imagem dela com aqueles vestidões longos, descalça, balangando de um lado pro outro no palco, igual pêndulo.
Mesmo com a implicância, animei de ir ao show, afinal é uma puta cantora, não tem como negar.
Entrou no palco e...barriga de fora. “Putz. Ferrou, vou ficar implicando com essa barriga o show inteiro, nem vou aproveitar”, pensei. E verbalizei logo, “Cafoninha esse modelito, hein?”. Todas concordaram.(Éramos 4 amigas, mulheres e críticas ferrenhas de moda).
Começou a cantar. Samba. Justamente as músicas que eu não conhecia, e eu só pensava na barriga...
(Vou abrir um parêntese para explicar essa obcessão com a barriga. O negócio é o seguinte, a Maria Rita era gordinha, usava óculos, vestidos longos, era discreta, se destacava unicamente e ecândalosamente pela voz. Eu gostava disso. Só que emagreceu. Foi aí que tudo se perdeu. Entrou na viagem que todo ex-gordinho tem de que pode sair botando tudo pra fora. Já tinha visto ela usando microsaias e saltos altísimos (gente, no início ela só cantava descalça), mas barriga de fora era audácia demais. Falei: Depois que começou a namorar o Falcão ela tá achando que virou Débora Seco. As meninas concordaram.
Implicância total, gente! Os sambinhas foram animando, logo entraram as canções mais antigas, composições do Rodrigo Maranhão e Amarante (que eu prefiro) e, acreditem, a Maria Rita tá sarada. Tive que dar o braço a torcer. “Cara, ela tá muito bonita”, falei. Todas concordaram, 4 mulheres de sensatas que somos.
Apesar de estar adotando o estilo meio Shakira de ser e estar bem diferente daquela que eu gostava (mais low profile), continua com um vozeirão e um repertório maravilhoso e com muito mais presença e domínio de palco.
Nem lembrei de que ela estava de barriga de fora e me acabei de dançar e cantar.
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Mas quem se acabou mesmo, foi uma Tchuca que estava ao nosso lado. A mulher com um minivestido, sambava, rodava, levantava os braços, sorria grande, ia até o chão, que tava até chamando mais atenção do que a Maria Rita. Pensei na hora em que os holofotes iam se virar todas para ela. As namoradas já estavam até retirando os respectivos de perto, quando alguém lançou:
“Ih, essa aí tá se achando a Maria Rita Cover”.
“Maria Rita Banguela, né? Porque tá faltando dente nessa boca aí”, falei.
Tc,tc,tc. Que maldade.

Um comentário:

Maria Clara Freitas disse...

Oi Letícia, bem adorei esse texto.
Cara concordo em número,gênero e grau! Ela te se achando realmente a Debora Secco!Porém, continua cantando muito bem!